O artigo “Destruição intelectual” de Gabriel Tebaldi no dia 20/2/2016 em A GAZETA, se referindo à pregação marxista em salas de aula, despertou-me a curiosidade de olhar no livro de geografia utilizado no ensino fundamental de um excelente colégio particular do estado, se haveria um viés ideológico nos temas apresentados. Surpreendentemente, está lá: “No capitalismo, embora seja o trabalhador que produza as mercadorias, não são dele os meios de produção, ou seja, as máquinas, os instrumentos e as técnicas de trabalho. Os meios de produção pertencem ao capitalista, para quem o trabalhador vende sua força de trabalho, isto é, sua força física e mental, em troca de um salário.” Adiante o texto fala no capitalismo como o modo de produção baseado na exploração da força de trabalho. Essa concepção é marxista e retrógrada, ignorando, como em todo o resto do livro, o papel do empreendedor e as concepções de Adam Smith, Keynes, Schumpeter e Peter Drucker sobre a mão invisível, o espírito animal, a destruição criadora e a importância da gestão .
Dizer que é o trabalhador que produz a mercadoria ignora os riscos de crédito e trabalhistas que o empresário assume e a iniciativa de conceber um negócio. A história tem mostrado que é assim que se produz riqueza e gera empregos. Os salários são pactuados e objeto de negociações sindicais e pessoais pelo mérito de cada um, inclusive nas escolas onde o livro é adotado. Ao contrário do regime cubano, onde até recentemente todos os botequins eram estatais e os trabalhadores são explorados pela ineficiência.
Não cabe aqui endeusar o capitalismo que tem seus problemas, principalmente na má distribuição de renda, mas o texto não aborda nem o papel do pequeno empresário – será correto chamá-lo de capitalista explorador de trabalhadores?
O livro culpa ainda a globalização pelo enriquecimento dos países desenvolvidos e pelo empobrecimento dos subdesenvolvidos. De onde se tirou isso? Não foi o que aconteceu com vários dos chamados emergentes que tiraram milhões da pobreza, inclusive no Brasil. Grande parte da riqueza gerada se deu pelas exportações globalizadas do agronegócio capitalista. Se há retrocesso agora, não é culpa da globalização, mas de um governo que ainda pratica um capitalismo envergonhado.
A preocupação que fica é a formação de futuros servidores públicos que vão atazanar a vida dos empreendedores, como hoje em dia, e que as escolas deixem de incentivar o espírito empreendedor, tão importante para gerar riquezas e empregos, utilizando, no século 21, textos com visões atrasadas do século 19.
Evandro Milet
Consultor e palestrante e escreve artigos semanalmente.
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