Amâncio Ortega, criador da Zara, diz que a rua é uma grande passarela e a verdadeira tendência está na rua. Conta-se que ele teria visto, ao lado do seu carro, um motociclista usando uma jaqueta diferente que lhe chamou a atenção. Imediatamente telefonou para sua equipe e em 15 dias a nova jaqueta estava em todas as lojas Zara. Essa mistura de moda e logística, batizada de fast fashion, se espalhou pelo mundo exigindo uma competência que poucos conseguem imitar. Por aqui ainda temos coleções modeladas meses antes que talvez cheguem às lojas quando a moda já passou. Mas o mundo gira em alta velocidade. Todo mundo ouve zap em velocidade de 2x. A moda também corre. Os chineses da Shein lançam o que se chamou de real time fashion, ainda mais rápido e online. Como competir?
A venda de roupa online ainda é um problema. Alguns tentam, mas a opinião que prevalece é que o consumidor quer pegar no tecido e há diferenças de padrão em tamanho. Clientes mais espertos vão à loja, experimentam e depois compram no site. Sabendo disso, lojistas boicotam a marca. A solução é dar comissão para o lojista?
Problema semelhante acontece com os representantes comerciais que se sentem bypassados quando a venda online é feita no seu território. Parece que a turma mais nova, mais digital, compra melhor no online. De qualquer forma, a técnica para vender online exige ótimas fotos e muito detalhamento dos produtos, inclusive explicitando as medidas para não gerar dúvidas. Muitas empresas de confecção ainda dependem majoritariamente de representantes comerciais para acessar lojistas país afora.
Não é fácil atender todos os gostos e achar a melhor estratégia. O interior é mais conservador, há regiões mais frias ou mais quentes. No sul, pessoas não gostam da marca aparecendo ns costas porque vão colocar casaco por cima, no nordeste adoram. Melhor vender em lojas multimarcas ou ter lojas próprias? Ter uma marca só ou várias? Para classe A, B, C, D ou E? Infantil, adoslescente, homem ou mulher? Ou é melhor achar um nicho? Não é fácil achar um rumo, ainda mais nessa época, onde as desconfianças políticas provocam retraimento.
Santa Catarina é um polo industrial fortíssimo, muitas empresas dedicadas a fornecer como private label para os grandes magazines com preço competitivo e alta qualidade, ainda mais porque a régua subiu com a possibilidade de reclamações propagadas nas redes. Mas as marcas mais fortes vêm do Rio e São Paulo, cidades cosmopolitas que atendem melhor a definição de Coco Chanel: “ A moda não é algo que existe apenas nos vestidos. A moda está no céu, na rua, a moda tem a ver com as ideias, a maneira como vivemos, o que está acontecendo.”
Mas nem sempre o que está na moda é acessível. A necessidade também cria a moda possível. Em um movimento recente percebido nos grandes magazines, há um boom de venda de vestidos, simplesmente porque fica mais barato do que jeans e blusa.
Como em todos os setores, há inovações acontecendo. Tecidos inteligentes, QR Code e chips na roupa, rastreabilidade de todo o processo, personalização, praticidade(quem quer passar roupa hoje?), e sustentabilidade, claro.
Sustentabilidade é um tema recorrente e preocupação constante do que fazer com retalhos de jeans, por exemplo. Recente utilidade percebida é forrar caixões para dar conforto a quem partiu. Por aí se vê que há sempre novas possibilidades criativas.
Publicado no Portal ES360 em 15/10/2023