De Jobs a Disney: a inovação sempre acontece nas conexões improváveis

Evandro Milet* – A Gazeta 21/05/2022

 

No clássico “DNA do inovador”, Clayton Christensen, com Jeff Dyer e Hal Gregersen, mostram como os inovadores de sucesso agem, muitas vezes intuitivamente. Descobriram cinco principais competências compartilhadas, todas ou parte delas, por nomes de referência mundial como Steve Jobs(Apple), Jeff Bezos(Amazon) ou Larry Page(Google).

Associar, questionar, observar, manter rede de relações(networking) e experimentar, compõem essas competências, que fazem com que eles pensem diferente e ajam diferente.

“Associar” ajuda os inovadores a descobrir novas direções fazendo ligações entre questões, problemas e ideias aparentemente sem relação entre si. As outras quatro competências acionam o pensamento associativo, porque permitem aos inovadores aumentar seu estoque de ideias formadoras das quais surgem ideias inovadoras. 

Descobertas inovadoras ocorrem muitas vezes na interseção de disciplinas e campos diversos. O autor Frans Johanssen descreveu esse fenômeno como “o efeito Médici”, referindo-se à explosão criativa que ocorreu em Florença quando a família Médici reuniu criadores de um amplo leque de disciplina – escultores, cientistas, poetas, filósofos, pintores e arquitetos. Esse encontro de especialidades deu origem ao Renascimento, uma das mais inovadoras épocas da história.

Esse efeito aconteceu diversas vezes durante a história, antiga e contemporânea. Os historiadores muitas vezes, chamam o período que vai dos séculos 8 a 3 no mundo islâmico de “o renascimento islâmico”, ou “a era de ouro”. Séculos antes do do Renascimento, Bagdá atraiu os melhores estudiosos do mundo muçulmano. Cairo, Damasco, Túnis e Córdoba também foram influentes centros intelectuais.

O Vale do Silício não era nada na década de 1960. Hoje é o que sabemos e a proximidade na Califórnia entre Hollywood e o Vale, aliada à genialidade de Jobs, gerou os desenhos espetaculares no estúdio Pixar e na sua atuação como máximo investidor individual da The Walt Disney Company. 

Em seu jeito zen de sempre, Jobs explicou a dicotomia do Vale e Hollywood: “…as pessoas de tecnologia não entendem o processo criativo pelo qual essas empresas passam para fazer seus produtos, e eles não apreciam o quão difícil é . E as empresas criativas não apreciam o quão criativa é a tecnologia.”

Em termos simples, pensadores inovadores fazem ligações de campos do conhecimento, problemas e ideias  que, para outros, não têm relação entre si.

Walt Disney descreveu, certa vez, sua função na empresa que fundou como “catalisador criativo”. Queria dizer que não era ele pessoalmente que desenhava as figuras de seus desenhos animados, mas era ele quem juntava as ideias de forma a provocar as faíscas que davam início às percepções criativas em toda a empresa.

Líderes inovadores fazem a mesma coisa. Eles submetem as ideias a uma polinização cruzada, em seu próprio cérebro e no dos outros. Ligam ideias, objetos, serviços, tecnologias e disciplinas muito diferentes para produzir inovações em que ninguém pensara antes e que fogem do convencional. Como Steve Jobs disse uma vez, criatividade é juntar ideias. Ele acrescentou: “Quando se pergunta a pessoas criativas como fizeram alguma coisa, elas se sentem um pouco culpadas porque não foram elas que o fizeram, apenas perceberam algo, tiveram a capacidade de combinar experiências e sintetizar coisas novas”

Einstein, certa vez, chamou o pensamento criativo de “jogo de combinações”, e via esse jogo como “ aspecto essencial do pensamento produtivo”. 

Associar – ou a capacidade de fazer ligações surpreendentes entre áreas de conhecimento, setores da economia e mesmo regiões geográficas separadas – é uma competência assumida pelos inovadores estudados no livro.

Os inovadores constituem o núcleo da capacidade de competir de qualquer empresa, ou mesmo de qualquer país. Acrescentemos aqui, também de qualquer estado.

A diversificação da economia, indústrias de ramos diferentes, comércio e serviços diversificados, economia criativa, arte, cultura, ciência e tecnologia, inovação, diversidade de gênero, etnia, idade, condição social, aliados a um ambiente que incentive a liberdade e o conhecimento poderiam provocar um “efeito Médici” no nosso estado.

 

*consultor em inovação e estratégia

 

Publicado em A Gazeta em 21/05/2022

 

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