Conta-se que o Presidente Truman dizia procurar economistas de um braço só, porque depois de uma explicação eles sempre falavam: “on the other hand” *. Mas reconheçamos que não é fácil saber o que vai acontecer com a economia, principalmente no Brasil onde, na frase célebre de Pedro Malan, até o passado é imprevisível. Outra figura de respeito, Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, afirma que Deus inventou o câmbio para humilhar os economistas, ninguém acerta. Delfim Netto, recentemente falecido, debochava em época de alta inflação, contando que todos usavam um número cabalístico, no qual o câmbio estaria sempre defasado em 30%, em qualquer situação.
Agora mesmo no Brasil, o ano começa com previsão de crescimento zero e já vai para cima de 2,5%. Com razão, porém, todos se escudam em Keynes: “Quando a realidade econômica muda, minha convicção acadêmica também muda”. E salve o agronegócio, a redundante salvação da lavoura, que não para de dar boas notícias.
Aliás Deus, ou Alá no caso, também humilha quem tenta prever o preço do barril de petróleo. As variáveis são tantas, não só econômicas como políticas, mas também psicológicas(psicólogos já ganharam Prêmio Nobel de economia) que não dá para culpar economistas e analistas de mercado.
Os políticos aproveitam para tripudiar, como Ronald Reagan, ao dizer que os economistas são pessoas que às vezes veem uma coisa funcionando na prática e se perguntam se funcionaria na teoria. De fato, casar economia com política não é fácil. “A primeira lição da economia é a escassez: nunca há o suficiente de coisa alguma para satisfazer plenamente todos que a querem. A primeira lição da política é desconsiderar a primeira lição da economia.” (Thomas Sowell, economista americano). Por aqui também.
No mercado financeiro também há insegurança. Metade dos analistas afirma que a Bolsa vai subir e a outra metade diz que vai cair. Estudos econômicos normalmente recomendam que o melhor momento para comprar alguma coisa é o ano passado.
O fato é que qualquer economista que registre honestamente o histórico de suas previsões logo aprende a ser humilde, como diz, de cadeira, o Prêmio Nobel Paul Krugman que emenda, “as crises são previsíveis e evitáveis, mas só as que já aconteceram”. Pelo menos se sabe que não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado(analógico) consegue estar certo duas vezes ao dia. Mas a Bolsa é um negócio esquisito até para fazer conta e a matemática não coopera. Se uma ação cair 50% vai ter que subir 100% para voltar ao mesmo valor. Na dúvida se o mercado vai subir ou descer é melhor dizer que o mercado ficará volátil. Na realidade, essa é a expressão para dizer “não sei”, em linguagem de mercado.
E cada pessoa enxerga o mercado do seu ponto de vista, como aqueles dois amigos, um deles muito pão-duro, que correram atrás do ônibus mas não conseguiram alcançá-lo e foram para o seu destino a pé. O pão duro logo ponderou: “Pelo menos economizamos a passagem”. O outro, irritado, bateu de volta: “Se eu soubesse que era assim, teria corrido atrás de um táxi e economizaria mais.”
Enquanto a turma do rooftop tenta prever a economia e se distrai na bolsa ou na renda fixa, a turma da lage se vira como pode. Assisti no Largo da Carioca, no centro do Rio, não muito longe do prédio que abrigava antigamente a Bolsa, o vendedor criativo, que não tem tempo de pensar em visão de futuro, dando aula de economia ao anunciar cachorro quente sem salsicha pela metade do preço.
Brincadeiras à parte, parabéns aos economistas no seu dia 13 de agosto.
*expressão em inglês para “por outro lado”
Coluna Inovação | Os braços dos economistas – ES360
Publicado no Portal ES360 em 18/08/2024