Exportar commodities é ótimo. Só exportar commodities não. Commodities são produtos que funcionam como matéria-prima, produzidos em larga escala e podendo ser estocados sem perder a qualidade. Dessa forma, o mercado de commodities tem seus preços definidos pela oferta e procura desses materiais primários. Outras características das commodities são: alto nível de comercialização, pouca industrialização, qualidade e traços uniformes de produção e não há diferenciação de marca.
A industrialização, principalmente de produtos de alta complexidade, é importantíssima para qualquer país, mas uma coisa não invalida a outra. Os Estados Unidos, por exemplo, continuam sendo o maior exportador mundial de alimentos in natura, e, no entanto, contam com forte indústria de transformação.
A exportação de commodities provoca certos cuidados, porém. Primeiro, os preços podem variar muito e nenhum país sozinho consegue administrar esses preços. Segundo, numa época de grande demanda por commodities, a entrada de dólares pode ser tão grande no país que vende que, pela lei da oferta e procura, o dólar fica barato. Na época que o dólar estava quase 1 para 1 com o real, por exemplo, exportar era difícil porque os produtos brasileiros ficaram caros. Bom era viajar e importar tudo. Isso quebra a indústria, provoca uma desindustrialização e prejudica o desenvolvimento do país, no que se chamou de doença holandesa.
A expressão “doença holandesa” foi inspirada em eventos dos anos 1960, quando uma escalada dos preços do gás teve como consequência um aumento substancial das receitas de exportação da Holanda e a valorização do florim (moeda local da época). A valorização cambial acabou por derrubar as exportações dos demais produtos holandeses, cujos preços se tornaram menos competitivos internacionalmente.
Além de uma política cambial adequada, é importante o investimento em educação, ciência, tecnologia e inovação para incentivar novos empreendedores sofisticados, criar novos produtos, reduzir custos e aumentar a produtividade.
No momento atual há um renascimento das políticas industriais no mundo e mesmo economistas que já criticaram políticas industriais como forma de desenvolvimento parecem mudar de ideia , mesmo que de forma restrita, como em artigo recente de Samuel Pessoa no blog do Ibre(https://blogdoibre.fgv.br/posts/reavaliacao-da-politica-industrial#_ftn12).
A mudança de posição dos Estados Unidos sobre o tema, ameaçado pelo avanço da China, é o exemplo mais forte da nova aceitação de políticas industriais. A preocupação com um certo controle das cadeias produtivas globais fez surgir uma nova leva de palavras que substituem o offshoring ou a terceirização da produção para países com mão de obra barata.
Primeiro o nearshoring e o friendshoring para voltar a produção para perto ou para países amigos. Com a Guerra na Ucrânia e o problema com o abastecimento de energia na Europa, começou a ser valorizado o powershoring, ou seja , a produção em países com energia barata e confiável. Talvez depois da guerra Israel versus Hamas surja o peaceshoring. Melhor para nós que só brigamos internamente e não com os outros.
Publicado em 22/10/2023 no Portal ES360