Ainda não está totalmente claro qual tipo de energia prevalecerá no mundo descarbonizado do futuro. A China está inundando o mundo com veículos elétricos, porém a fonte de energia para movimentar os veículos nem sempre é limpa. E ainda não estão resolvidos os problemas do que fazer com as milhões de baterias e nem com os problemas ambientais eventualmente causados pela mineração dos minerais necessários. Outra solução que se encaminha, ainda nos estágios iniciais, é a utilização do hidrogênio verde, produzido na eletrólise usando energia verde, solar, eólica, ou a rota biológica, com biogás e etanol para separar o oxigênio da molécula da água.
O hidrogênio também tem seus problemas. Para o transporte em grandes quantidades, o gás precisa ser liquefeito a -253 °C. Esse resfriamento requer uma quantidade extremamente alta de energia e com perdas pela evaporação. A amônia pode ser usada para transportar quantidades muito maiores de energia em menos espaço por causa da maior densidade. Você extrai nitrogênio da atmosfera (N2), hidrogênio da eletrólise da água (H2) e combina os dois para produzir amônia verde (NH3). A amônia já se liquefaz a -33 °C e pode ser armazenada e transportada com mais facilidade e a um custo menor.
A produção de amônia para fertilizantes é uma das maiores indústrias químicas do mundo. Existem plantas em todo o globo, e navios a transportam diariamente, por isso é uma coisa muito padrão. Uma vez no destino, o processo de “craqueamento” – ou extração do hidrogênio contido na amônia – é simples. Já existem até equipamentos pequenos para esse fim.
Há outra alternativa ainda. A Aliança Global para Biocombustíveis, lançada por 19 países, incluindo Brasil, Estados Unidos e Índia, promove biocombustíveis sustentáveis. O Brasil busca convencer a Índia a usar seu excedente de açúcar para produzir etanol, impulsionando a tecnologia flex, que o Brasil domina, no lugar de inundar o mercado e derrubar os preços. Esta aliança engloba os três maiores produtores de etanol: EUA (55%), Brasil (27%) e Índia (3%).
Para o Brasil, a aliança pode impulsionar seu projeto de tornar o etanol uma commodity internacional. A padronização do etanol é um passo importante para que possa ser comercializado entre países, da mesma forma que ocorreu com commodities de petróleo, soja, açúcar e café.
Cerca de 76% da energia elétrica da Índia vem de combustíveis fósseis, sobretudo a queima de carvão mineral, um grande emissor de poluentes, que responde por cerca de 70%. Eletrificação não é sinônimo de descarbonização. Se a energia elétrica é mais suja, o carro a etanol pode ser melhor do que o elétrico. Vamos ter espaço para os dois.
O Brasil tem potencial para exportações, inclusive de mais valor, como no caso do etanol para aviação. Também há um mercado em expansão para biocombustíveis para navios.
Uma grande oportunidade com essa diversidade de fontes de energia verde pode ser o powershoring, estratégia de atração de investimentos em plantas industriais intensivas em energia. Este é o caso de setores como o aço, cimento, metalmecânica, química, vidro, cerâmicas, papel e celulose, fertilizantes e tantos outros que geram emprego, renda e contratação de empresas pequenas e médias.
Enfim, em todas as rotas o Brasil está bem posicionado, com capacidade de ser não só o maior fornecedor de alimentos do mundo, mas também seu grande fornecedor de energia verde.
Publicado no Portal ES360 em 17/09/2023