Artigos recentes na imprensa local e nacional chamam a atenção para o processo de desindustrialização no país e a queda real da economia capixaba entre 2010 e 2020. As ocorrências de Mariana e Brumadinho e a queda da produção de petróleo explicam grande parte dessa constatação, além da pegadinha de comparar uma ano de crescimento explosivo em 2010 e outro de pandemia, como mostrou o economista Orlando Caliman. Anima saber que essa produção é recuperável. A Samarco, que representava 5% do PIB do estado, já deu início ao processo de licenciamento ambiental para recuperar 100% da sua produção e novas plataformas de petróleo voltarão a subir os indicadores de produção capixaba.
A desindustrialização é explicada em parte pelo custo Brasil e por defasagem tecnológica, implicando em baixa produtividade, que também é causada pela baixa escolaridade. Há esperança que uma prometida – para breve – reforma tributária reduza o custo das empresas, retirando impostos em cascata e reduzindo o custo burocrático de pagamento de impostos.
Mas o que poderia ser feito de forma estruturante para criar uma condição de crescimento permanente e robusto no estado?
Diversificação certamente ajuda, uma indústria puxa outra. A Volare(Marco Polo) provocou a vinda da Agrale para produzir carrocerias e a utilização dos vidros da Viminas. A sinalização feita pela Arcelor para um LTF- Laminador de Tiras a frio vai atrair as indústrias da linha branca. A venda de campos de petróleo onshore pela Petrobras pode triplicar a produção em terra que, embora pequena, demanda serviços e produtos de valor importante para empresas capixabas fornecedoras. O marco legal do saneamento acelera investimentos do setor.
A atração de novas empresas está acontecendo e vai aumentar, onde o norte do estado é um espaço privilegiado pela dinâmica já alcançada com muitas empresas, e também pela nova situação de Aracruz com ambiente Sudene e o novo porto da Imetame. A atuação do PDF – Programa de Desenvolvimento de Fornecedores, trocando a cadeia de fornecedores originais dessas empresas por empresas locais é fundamental.
Seria importante que as negociações para atração de novas empresas colocasse na pauta o compromisso em trazer pelo menos parte da área de P&D interna ou, pelo menos, o desenvolvimento de projetos com a academia local.
O setor de apoio à tecnologia do ES é privilegiado. A Fapes é a instituição de fomento do Brasil que mais aplica recursos. As recentes mudanças do marco de inovação e dos critérios de avaliação de pesquisadores pela Capes traz novas esperanças. A avaliação dará um grande peso a patentes depositadas e desenvolvimento de startups, diferentemente do tradicional – e paralisante para inovação – critério de publicações em periódicos como única avaliação. Essa mudança joga mais profundamente a academia no ecossistema que avançou bastante com o Fundo soberano, a inovação aberta pelas grandes empresas e o crescimento dos ambientes de inovação. O mundo das startups deverá deixar de ser marginal para ser mainstream na economia do estado nos próximos anos.
Um caminho a ser explorado é a expansão da vocação industrial de muitas empresas capixabas do setor metal-mecânico, especializada na prestação de serviços por encomenda, em direção da produção seriada. São dois mundos tecnológicos diferentes. Nos serviços, o ajuste das empresas em momento de crise é mais fácil pela desmobilização de pessoas, porém com custos sociais. A produção seriada, por outro lado, abre caminho para venda nacional, para exportação e para replicar fábricas em outros locais. Muitas das empresas que vieram para o estado têm essa característica, mas operam com o corpo capixaba e coração e alma em outro estado. As necessidades de MDF da indústria moveleira provocaram a inovação societária de 45 empresários se cotizando para criar a Placas do Brasil, com muita tecnologia europeia, origem de grande parte das novidades na área industrial. É um aprendizado para a expansão de uma indústria seriada de origem capixaba.
Há ainda outro mundo, com futuro garantido, a ser explorado: a economia verde. Hidrogênio verde, eólicas offshore, energia solar e as possibilidades infinitas da bioeconomia, onde o país poderia nadar de braçada. Uma corrida mundial está acontecendo nesse campo, puxado pela escassez de energia na Europa com a guerra na Ucrânia, a nova política industrial dos EUA, a disputa pelo explosivo mercado dos veículos elétricos e a luta mundial para se defender das mudanças climáticas e seus recorrentes eventos extremos. Por aqui a Brametal, já com coração capixaba, a Fortlev, a Vale, Arcelor, Suzano e outras tomaram esse rumo promissor. A reindustrialização vai acontecer em novas bases.
Falta falar das possibilidades do agronegócio, seja pelas cooperativas, e principalmente o café capixaba e sua industrialização crescente, seja como corredor logístico pelos portos e ferrovias, antigos, novos ou projetados. Aliás, a logística é, em si, uma vocação natural pela localização geográfica e pelo crescimento exponencial do e-commerce no país, ainda longe da estabilização. Todos os dias surgem notícias sobre grandes operadores construindo galpões enormes, puxando a construção civil e as frotas de caminhões.
Se conseguirmos resolver enfim os imbróglios da BR 101, BR 262 e EF 118, aí é correr para o abraço.
https://es360.com.br/coluna-inovacao/post/para-onde-aponta-o-futuro-da-industria-capixaba/
Publicado no Portal ES360 em 12/03/2023